Depois de anos em que a vida e a arte se misturaram de maneira turbulenta, Christian Chávez ressurge mais forte, mais maduro e, acima de tudo, mais verdadeiro. O cantor e ator, que marcou gerações como parte do fenômeno RBD, abriu o coração em uma entrevista à Rolling Stone en Español para falar sobre seu novo EP “Sí”, uma obra profundamente pessoal que transforma dor em liberdade e silêncio em música.
“Este EP é como fechar um ciclo. Por muitos anos, senti que perdi minha voz. Agora, estou pronto para falar — e cantar — minha verdade.”
Com essa declaração, Christian resume o espírito de um trabalho que nasce da vulnerabilidade e se transforma em força. Sí não é apenas um projeto musical — é uma carta aberta a si mesmo, escrita com coragem, introspecção e amor próprio.
“Sí”: um novo capítulo
O nascimento de Sí começou em um processo terapêutico. Christian foi incentivado a escrever uma carta para seu “eu” do passado, o jovem que sonhava em cantar, mas que enfrentou inseguranças e julgamentos. “Muitas frases das canções saíram dessa carta. Eu percebi que precisava transformá-las em música. Foi assim que Sí nasceu.”
Cada faixa é um fragmento dessa jornada. Em “Si te hablara de él”, feita com Elsa y Elmar, o cantor confronta o medo de ser autêntico. Já “Si Mañana Me Voy”, composta ao lado de Claudia Brant, transforma lembranças em redenção. “Foi doloroso, mas libertador. Tocar nas feridas e transformar isso em arte é o que faz tudo valer a pena.”
O artista também cita uma frase que o marcou profundamente:
“Meryl Streep disse uma vez: ‘Pegue toda a dor que você tem e transforme em arte’. Isso ficou comigo para sempre — e é exatamente o que eu fiz.”
Após mais de cinco anos de psicanálise, Christian afirma viver um momento de clareza e gratidão. “Ver minha história através das músicas já não dói. É como revisitar meu passado sem medo, com compaixão. É o fim de um ciclo — e o começo de outro.”
Entre arte e ativismo
Além da música, o ativismo LGBTQ+ se tornou parte essencial da vida de Christian. O cantor colabora com uma associação civil que luta pelos direitos da comunidade no México, ajudando na proibição das terapias de conversão e promovendo espaços seguros para jovens LGBTQ+.
“Ser eu mesmo já foi motivo de dor. Hoje, é motivo de orgulho. Quero que nenhuma outra pessoa precise viver escondida ou com medo de existir.”
O artista também participou de ações no Dia Internacional contra a Homofobia, Transfobia e Bifobia, reforçando seu compromisso com causas sociais. Para ele, o ativismo e a arte são inseparáveis.
“Mais do que buscar fama e fortuna, quero me olhar no espelho e estar em paz com o que digo, faço e penso.”
Essa coerência entre discurso e prática se tornou seu maior combustível. “A música é o espaço onde posso ser honesto, e o ativismo é onde essa honestidade se transforma em propósito.”
Christian admite que durante anos conviveu com inseguranças, ansiedade e medo. Mas foi nesse processo de desconstrução que ele aprendeu a abraçar sua vulnerabilidade como parte da força.
“Sou um Christian mais maduro, consciente e desperto. Ainda tenho medos, mas já não me paralisam. Aprendi que felicidade eterna não existe — o que existe é autoconhecimento.”
O artista também reflete sobre o peso da fama e o impacto de ter sua vida exposta publicamente. “O RBD é uma parte linda da minha história, mas também é um fenômeno tão grande que às vezes esconde quem somos por trás dos personagens. Com Sí, quero que as pessoas conheçam o Christian humano, não apenas o artista.”
Essa necessidade de reconexão consigo mesmo também transformou sua forma de entender o sucesso. “Já deixei de fazer as coisas para os outros. Hoje, faço por mim. Se minha música tocar dez pessoas de verdade, já é suficiente. Isso é amor próprio — e é a primeira vez que realmente o sinto.”
Com Sí, Christian Chávez não apenas lança um novo projeto, mas convida o público a conhecê-lo de novo — desta vez, sem filtros. O disco é uma travessia entre passado e futuro, medo e aceitação, dor e renascimento.
“Não quero que esqueçam de Giovanni, porque ele faz parte de mim. Mas agora é hora de mostrar o Christian que aprendeu a se perdoar, a se amar e a cantar com verdade.”
Mais do que música, Sí é um manifesto de liberdade — uma celebração de quem ele é hoje: um artista que sobreviveu à tempestade e, finalmente, aprendeu a dançar na chuva.
Confira a entrevista completa no site da Rolling Stones, em espanhol.